Cinco anos depois de Bird Box (2018) surge Bird Box Barcelona, um spin-off, ao invés de uma sequela; uma versão menos impactante da mesma premissa, ao invés de um crescimento ou desenvolvimento da mesma.
Quando umas criaturas misteriosas, cuja força mortífera surge ao serem observadas, tomam posse do planeta, os seus habitantes são forçados a viverem de olhos fechados no exterior, de modo a terem uma hipótese de sobrevivência. Neste mundo, Sebastián (Mario Casas) e a sua filha, Anna (Alejandra Howard), encontram um objectivo na sua jornada que entrará em conflito com o de muitos habitantes de Barcelona.
Bird Box, na sua origem, foi um livro escrito por Josh Malerman, em 2014, de grande sucesso, tanto que a história foi adaptada para um filme da Netflix protagonizado por Sandra Bullock, em 2018. Como uma boa parte destas adaptações literárias para o cinema, após a estreia e relativo sucesso do filme, o estúdio aderiu à grande tendência de expandir um mundo que estava já criado e fechado. Os resultados não costumam ser animadores, e Bird Box Barcelona confirma na perfeição esta tendência. É um bocadinho de tudo o que Bird Box é, mas com menos qualidade, e em escala mais pequena.
Um dos pontos fortes de qualquer filme de terror está na criação de um cenário aterrorizador, e em mostrar o menos possível da ameaça para fazer com que a imaginação da audiência trabalhe pelo criador, pois nada é mais assustador do que o que conseguimos inventar nas nossas mentes.
Este spin-off, realizado pela dupla David Pastor e Àlex Pastor, não revela totalmente as criaturas que assombram o mundo, mas cai na tentação de mostrar mais do que deveria. O efeito terror nunca está presente em todo o filme, apenas uma ligeira curiosidade em saber como a história acaba. Das várias personagens, nenhuma encontra desenvolvimento suficiente no argumento para que possamos verdadeiramente criar empatia pelo seu destino no enredo, com a excepção de Sebastián, que entra em praticamente todas as cenas. Mas mesmo com este protagonista, apesar de sermos sensíveis ao seu dilema, na sua luta entre a realidade e aquilo que quer ver, numa batalha alimentada pelo luto, nem por isso nos contorcemos no nosso lugar perante os perigos que enfrenta.
No entanto, há que admitir que o maior motivo de interesse em Bird Box Barcelona está na complexidade do seu protagonista, cujo comportamento errático e instável, força uma reflexão, pela audiência, sobre se é alguém por quem devemos torcer, ou não. Somos introduzidos para essa dúvida que revela-se como o primeiro, o maior, e, em boa verdade, também o único twist relevante e inesperado da sua duração. Uma dúvida que no fundo se torna na real premissa do filme, e é bem suportada.
Os efeitos visuais são razoáveis: não espantam ninguém, nem são distrativos pela sua ineficácia. A banda sonora e design de som passam quase despercebidos, o que é uma pena atendendo ao papel importante que podiam ter numa história onde, na maior parte do tempo, as pessoas não podem usar o sentido da visão, necessitando, mais do que nunca, dos seus outros sentidos.
É possível que os filmes associados a Bird Box não fiquem por aqui (o final deixa essa hipótese em aberto), independentemente desta segunda tentativa ter sucesso ou não. Porém, caso este spin-off da franquia seja um dos filmes mais vistos do ano na Netflix, pode ser que esse impacto positivo obrigue uma análise mais profunda do que precisam de mudar para tornar uma óptima premissa num filme de terror consistente e provocante.