Beast (2022)

de Janai Reis

“Fiquem aqui…” mais uma vez… e outra…

Este filme conta a história de Nate Daniels (Idris Elba), um médico que perdeu a esposa, e as suas duas filhas adolescentes, Norah e Meredith, que estão em viagem com o propósito de unir novamente a família magoada. Esta viagem, aparentemente inofensiva, passa-se na África do Sul, repleta de terrenos áridos, de animais exóticos e de paisagens potencialmente encantadoras.

Inicialmente a realização de Baltasar Kormákur prende o espectador com um plano-sequência – o plano mais usado por quem gosta de mostrar mestria na realização. Mas querer mostrar a mestria e cair na desgraça é algo muito fácil de acontecer, especialmente quando o filme é um conjunto de planos-sequência que parecem não ter o mínimo de contributo narrativo, lógico ou emocional para o filme. Beast usa e abusa do plano-sequência e aparenta não o fazer mais porque não foi possível (ou permitido). Tantos planos-sequência trazem ao filme o oposto do que a maioria dos planos dessa ordem trazem: prender o espectador num movimento fluído, seja essa uma cena de tensão, drama, ação, etc. A verdade é que, ainda que a realização possa ser apreciada nesse ponto de vista mais técnico, torna-se imensamente aborrecida. Ainda que seja um realizador já com alguns filmes assinados parece estar longe do seu objetivo. Já a avó do Spike Lee dizia ao seu neto: “Que tal gatinhar antes de andar?”.

Ainda que a realização seja um problema, há algo que se torna mais incomodativo. Toda a gente já viu um ator incrível a fazer filmes maus, um ator de topo a submeter-se a filmes que não lhes dão minimamente nada, mas ver Idris Elba neste filme é mesmo muito difícil para quem já o viu em outros projetos. Elba já deu de si a muitos filmes mais corriqueiros, já deu muito a filmes que realmente precisavam, e tem muito para dar a mais filmes por vir, contudo, não parece humanamente possível dar algo a um filme como Beast. Vamos acreditar que isto apenas aconteceu por indisponibilidade de Dwayne “The Rock” Johnson.

Mas talvez o que incomode mesmo seja o facto dos efeitos especiais serem quase ou nada verossímeis. Parece ter havido esforço para fazer o melhor, mas falta de tempo para concretizar. Entre estes leões de Beast e os do live-action de The Lion King (2019), venha o diabo e escolha. Ou talvez o que incomode na verdade, seja o facto do filme parecer ter 4 horas de duração e não 1h27 (sem contar com os créditos – que chega a 1h33). Torna-se difícil saber qual é a coisa que mais causa desconforto e vontade de abandonar o filme, mas, ainda assim, o grande prémio vai para a escrita do guião!

Não parece possível que se aguente 1h30 de filme dividida por pequenos momentos de ação que começam com um “fiquem aqui…”, um “não saiam daqui…” ou ainda “vou só ali e já venho…”. É mesmo insípido pois não só se torna previsível, como frustrante, tendo em conta as inúmeras vezes que algo do género acontece. As falas não são plausíveis, os personagens igualmente, e o mundo que nos apresentam torna-se cada vez menos credível à medida que o tempo passa. Não há a mínima estrutura neste filme, já para não falar dos momentos extra explicativos que ele nos dá.

Beast talvez seja um filme para ver em companhia; para fazer barulho de fundo enquanto se joga monopólio com um grupo de amigos; ou talvez simplesmente para matar 1h30 do tempo e paciência de um ser humano comum. Para tirar proveito de entretenimento não parece haver razão para o ver, muito menos para levar o filme para casa na cabeça e/ou no coração.

1/5
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