Back in Action é o novo êxito da Netflix e traz Cameron Diaz, à semelhança da sua personagem, de volta à ação numa clássica história de espiões, no meu subgénero preferido, famílias de espiões. No entanto, o filme realizado por Seth Gordon não passa de mais uma experiência esquecível que, definitivamente, não é o regresso que a atriz merecia.
Um casal de ex-espiões muito funcional e bem adaptado que adora todas as atividades e responsabilidades parentais, vive intensamente a vida dos filhos, uma filha atlética que está naquela fase em que despreza os pais, outro filho mais nerd, um pequeno conflito familiar e uma aventura desproporcionalmente perigosa e violenta que volta a unir a família. Já vimos este set up antes? Claro, e em última instância todas as histórias são essencialmente a mesma história, e isto não seria um problema se a sua concretização não fosse uma cópia da cópia da cópia.
Em Back in Action, a subtileza é deixada de lado e as referências do realizador são transferidas quase a papel químico para o ecrã, conseguimos intuir, desde os primeiros segundos, o que temos pela frente. A atraente parelha que protagoniza o filme parece ser imprescindível para o género e a boa disposição e magnetismo de Jamie Foxx e Cameron Diaz quase nos fazem esquecer que já vimos isto antes. No entanto, a sensação de déjà vu permanece nos 114 minutos seguintes, o contentamento com a rotina banal, o atrito com a filha adolescente, uma viagem intercontinental, perseguições, mansões, fatos elegantes, pancadaria no Tate Modern e uma lancha no Tamisa que nos parecem familiares não fosse o filme exatamente isso, PG-13.
A história desenrola-se num tom leve com alguma ação e humor mas o mais próximo que consegue estar do riso é pelo objeto anedótico que provoca toda a comoção: como é possível que uma peça tecnológica possa ser tão valiosa passados quinze anos se o meu telemóvel torna se obsoleto um ano depois de o comprar?! A ausência de tecnologia de ponta num filme de espiões acaba por ser uma desilusão, uma vez que estes gadgets são uma das características mais cativantes dos agentes secretos.
As motivações do vilão são superficiais a um nível quase infantil, o que torna o conflito bastante fraco, principalmente numa narrativa familiar em que sabemos à partida que as stakes são baixas, por isso, o final é previsível sem qualquer tensão e deixa em aberto a possibilidade de continuação. Para o próximo prevejo uma família completa de espiões, podem dizer que leram aqui primeiro!
As personagens são arquétipos simples e, por mais que goste de ver, o sorriso da Cameron Diaz não é suficiente para salvar este filme. O brilho da atriz ofusca o seu co-protagonista, Jamie Foxx, e a história acaba por girar em torno de si deixando o parceiro numa posição de sidekick. Ainda assim, a dinâmica parece funcionar bem entre os dois, que têm uma química incrível. O elenco conta também com nomes conhecidos como Glenn Close, que interpreta Ginny, mãe da Emily (Cameron Diaz), protótipo da senhora Inglesa, Jamie Demetriou, engraçado como sempre, e Andrew Scott, que interpreta o papel de um agente do MI6 que tem uma paixão por Emily e que apesar de ser uma personagem importante para o enredo, o ator faz-nos esquecer que existe com uma entrega pouco vibrante e sem convicção, que destoa com a energia do restante casting. Uma das suas maiores falhas é o subaproveitamento do talento mais jovem, Alice (McKenna Roberts) e Leo (Rylan Jackson) acabam por não ter grande oportunidade para dar o seu contributo e teremos que esperar pela sequela para ver essa performance.
Para alguém que adora Spy Kids (2001), sinto falta não só de Antonio Banderas e de gadgets divertidos mas principalmente de ideias originais, e não posso deixar de recear o seu declínio nas plataformas de streaming quando qualquer filme atinge métricas de sucesso que são medidas pela sua disponibilidade e não pela qualidade, e torna-se obvio que o investimento em caras conhecidas e formulas testadas se sobrepõe à criatividade.
Sinto que é quase injusto classificar este filme com a mesma escala com que se classificam obras-primas do cinema e outras, que ainda que não o sejam, que experimentam e tentam dizer alguma coisa, porque esse não é o objectivo aqui. No entanto, não está mal executado, funciona para passar na sala de estar, num domingo à tarde em família, permite um scroll ocasional nas redes sociais e entretenimento para todos, na escala dos filmes que não pretendem ser mais do que aquilo que são, não está assim tão mal.