Avatar: The Way of Water (2022)

de Pedro Ginja

É inegável a alegria sentida quando nos vemos, novamente, em Pandora. James Cameron deixa-nos, por alguns minutos no início, entrar nesse mundo e nas memórias daquela primeira vez. Por uns instantes somos só nós, a beleza das paisagens e da fauna e flora de um local vindo da imaginação de um homem mas parte agora de todos nós. Seria impossível repetir a magia desse momento de transformação no cinema, e que originou um novo boom dos filmes a 3D (a maior parte de qualidade muito duvidosa), mas Cameron acredita como ninguém e dedicou grande parte do seu futuro à expansão deste universo com 4 sequelas programadas após o êxito de Avatar (2009). Passados 13 anos é tempo de iniciar esta nova jornada.

A primeira dessas sequelas é este Avatar: The Way of Water, passada 10 anos após os acontecimentos do primeiro filme. Conta a história da família Sully, agora expandida para além de Jake (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana), com o nascimento dos seus 4 filhos. É um período de paz, prosperidade e felicidade até que os Tawtute (humanos na língua Navi – até uma nova língua Cameron pensou) decidem regressar para terminar o que começaram. É preciso voltar à luta e salvar o planeta da ganância e poder destrutivo humano, e tanto Sully como Neytiri não vão parar de lutar para garantir a segurança da família e do planeta.

Não havia grandes dúvidas que há apenas uma pessoa capaz de realizar esta tarefa hercúlea e James Cameron não desilude no capítulo da acção e do espectáculo. Já desde The Terminator (1984) e a sequela Terminator 2: Judgement Day (1991), assim como em Aliens (1986), que os seus créditos, neste capítulo, estavam mais que firmados e este Avatar só o confirma e expande para além da nossa imaginação. Ninguém filma sequências de acção e combate com a fluidez e a mestria de James Cameron e isto aliado aos avanços tecnológicos e técnicos, criados para as cenas debaixo de água, tornam tudo ainda mais perto da realidade do que seria possível.

Mesmo o motion capture é assustadoramente real e por vezes parece que temos mesmo avatares reais, de carne e osso, de Zoe Saldana, Sam Worthington e Kate Winslet (esta no papel de Ronal). Nem todos os planos parecem ter o mesmo tratamento de luxo (principalmente em terra firme) e por vezes surgem alternâncias estranhas nos efeitos de gravidade, mas mesmo isso é bem acima do típico blockbuster de Hollywood. Nos outros aspectos técnicos como o som, a direcção de fotografia, a direcção de arte e a música, tudo funciona na perfeição e contribui para o sentimento de completa imersão que o espectador sente durante a projecção. Em certos momentos parece que estamos a bordo de uma montanha russa, e o coração bate a grande velocidade, tal é a estimulação aos nossos sentidos.

Outra decisão inteligente é a migração para uma paisagem aquática, terra Natal dos Metkayina, uma das muitas tribos em Pandora. É neste ambiente, em que se recria um completo e complexo ecossistema marinho único, que a beleza transparece e as cores vivas deixam o comum dos mortais maravilhados. Como o primeiro filme o fez na versão 3D, também aqui tudo parece estar à distância de um esticar de mão e por vezes faz-nos perder a noção de espaço. Uma sensação magnífica, mas atenção ao amigo do lado para não haver acidentes.

Esta mudança de localização introduz novos ângulos e infinitas possibilidade de expansão (O Caminho do Fogo, Terra ou do Ar a seguir?) assim como incorpora novos temas fraturantes como os problemas de refugiados, discriminação, xenofobia e de aceitação na diferença, humanizando, ainda mais, os Na’vi. Há uma mudança gradual de foco de Jake e Neytiri (criminalmente subaproveitada – como provam algumas cenas) para os seus filhos, mas mesmo com 3h10 de duração não é suficiente para definir bem todos os elementos da família para além da filha Kiri (Sigourney Weaver) e de Lo’ak (Britain Dalton). O mesmo aconteceu na tribo dos Metkayina onde apenas Ronal (Kate Winslet) tem espaço para brilhar num argumento que falha em ter mais momentos de desenvolvimento de personagens. Quaritch (Stephen Lang), nos vilões, é o único que parece querer fugir de um lugar-comum mas acaba por ceder e tornar-se em mais um na engrenagem de uma história à qual falta mais profundidade e capacidade de arriscar o falhanço, como Everything Everywhere All at Once (2022) fez tão bem este ano.

Avatar: The Way of Water é um filme belíssimo e na vanguarda da tecnologia, expandindo o planeta Pandora para novas e inesperadas direcções mas é incapaz de sair das armadilhas habituais, dos blockbusters de Hollywood, no desenvolvimento do argumento ou das suas personagens.

Nota: Esta crítica refere-se à versão 3D IMAX em exibição em alguns cinemas.

3.5/5
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