Já colocaram todos o fato de astronauta? Então continuam a não estar prontos para esta viagem psicadélica, e, por incrível que pareça, pouco fascinante a um novo mundo potencialmente habitável para o ser humano.
Ryia (Eiza González) acorda num planeta distante e encontra a tripulação da estação espacial morta. Sem memória dos acontecimentos que levaram a este desfecho, procura desesperadamente por respostas.
A envolvência deste cenário criado por Flying Lotus, realizador do filme, é misteriosa, intrigante e visualmente hipnótica. O ponto de partida é idílico para um crescendo de tensão que culmine num clímax surpreendente. No entanto, o enredo resume-se a mais de uma hora sem desenvolvimento, tanto da história como das personagens, e 15 minutos finais que condensam toda a informação necessária para percebermos tanto o que aconteceu como para prever o que irá acontecer. Todos os elementos utilizados para criar conflito são básicos, como a perda de memória e a sua respectiva recuperação gradual em momentos convenientes por parte da protagonista; a aparição de uma personagem que sabe mais do que diz, e, em última instância, a verdadeira razão para o banho de sangue que nos é revelado nas primeiras cenas. É notória a influência retirada de Alien (1979), porém essa inspiração não chegou para recriar qualquer sentimento que o clássico de Ridley Scott nos possa provocar.
Eiza González surge em praticamente todos os planos de Ash, o que representa uma responsabilidade grande, tal como uma oportunidade muito particular para mostrar do que é capaz, contudo, apesar de cumprir com a exigência da personagem, inclusive em cenas físicas, não acrescenta qualquer brilho que consiga elevar o nível geral da produção. Em contrapartida, a Aaron Paul foi entregue muito pouca margem para criar uma personagem marcante, e ainda assim é palpável a luta do actor para tentar dar sentido a vários dos seus diálogos. Fica a sensação de desperdício do potencial humano para este projecto.
Com uma duração de pouco mais de 90 minutos, poderíamos imaginar que Ash seria um filme fácil de ver e aguentar, mas não é com essa percepção que ficamos quando chegam os créditos finais. A ambição do departamento de arte não se assemelha minimamente com a ambição do argumento. Não seria má ideia transformar Ash numa curta-metragem, porque efectivamente o conteúdo espremido não dá para mais. Apesar do esforço em fazer ficção científica com baixo orçamento, onde o filme podia triunfar é onde fraqueja com estrondo: a falta de originalidade do enredo fragiliza a própria razão para realizar a longa-metragem. Restam-nos imagens soltas com uma beleza proporcionalmente inversa ao contexto em que elas estão inseridas.