Desde 2022 que Alfonso Cuarón (Gravity, 2013; Roma, 2018) tem produzido curtas-metragens de Natal para a Disney+. An Almost Christmas Story é a terceira e última adição a esta trilogia que inclui Le Pupille (de Alba Rohrwacher) e The Shepherd (de Iain Softley). Desta vez foi David Lowery a assumir a cadeira de realizador para nos entregar um filme de animação aconchegante para todas as idades, perfeito para entrar no espírito natalício.
Todos os anos, nas semanas que antecedem o Natal, chega ao famoso Rockefeller Center, em Nova Iorque, um pinheiro de quase 30 metros, iluminado numa cerimónia televisionada que já se tornou parte do tecido imaginário da cidade. Em 2020, foi encontrada, no meio da árvore, uma pequena e adorável coruja, vinda, presumidamente, da floresta de onde a sua casa fora extraída.
Este acontecimento inspirou An Almost Christmas Story, que daí forjou uma narrativa coming-of-age para o animal, o qual apelidou de Moon, e para o qual criou todo um passado e personalidade. Cuarón e Lowery, juntamente com a equipa de animadores do Maere Studios, imaginaram esta coruja como um jovem irreverente com desejos de sair do ninho, literal e figurativamente. Quando as circunstâncias lhe concretizam, forçosamente, esse desejo, Moon (Cary Christopher) vê-se obrigado a enfrentar a grande, barulhenta, e caótica metrópole, incluindo uns pombos ameaçadores liderados por Pat (a quem Natasha Lyonne empresta a sua inconfundível voz).
Apesar do ambiente desconhecido e dos perigos que ele representa, Moon acaba por fazer uma amizade valiosa na figura de uma menina, que, entre outras características, partilha o seu nome — Luna. A viagem deste par na busca pelas suas respetivas casas enfatiza a mensagem intemporal e muito típica desta época do ano de que nunca estamos sozinhos, mesmo quando parece impossível encontrar um amigo.
An Almost Christmas Story tem todos os ingredientes do típico filme de Natal, condensados para encaixar no formato da curta-metragem. Explora, principalmente, os sentimentos contraditórios de alegria e tristeza, e a forma como estes se emaranham para criar o estado de espírito singular que, por norma, define estas festividades. Toca, também, nos tópicos da importância da família, da amizade e da empatia, dos desafios e recompensas que o ato de crescer proporciona, e daquilo que define, verdadeiramente, o nosso lar.
Tudo isto vem embrulhado numa animação mágica gerada em computador, mas que imita o stop motion e as miniaturas ou maquetes. Os grandiosos arranha-céus de Nova Iorque, tal como todos os figurantes, são representados por blocos de cartão, enquanto que os protagonistas são mais parecidos a fantoches ou plasticina. As cores e a iluminação são quentes, brilhantes, e melancólicas, tal como a época que o filme captura. E, depois, há a música — sempre presente e constante, não fosse este um elemento fulcral do Natal, e entregue através da figura de um cantor de rua (John C. Reilly) que serve, também, de narrador, interagindo com o espectador e as suas expectativas daquilo que constitui uma história natalícia.
An Almost Christmas Story não é uma produção revolucionária, mas acerta em todas as notas que compõem um clássico desta época, especialmente na perspetiva, quiçá, mais adulta que adota, ao conferir à sua história tons tão agridoces, enraizados na experiência assustadora que é crescer. Vale, principalmente, pela imagem, que, apesar de recorrer na sua totalidade à animação digital, demonstra notável criatividade e bom gosto.