American Animals (2018)

de Sofia Alexandra Gomes

American Animals retrata a história verídica de quatro jovens americanos que, em 2005, assaltaram em conjunto a biblioteca da Transylvania University para roubar alguns dos livros mais valiosos do país: as edições originais de A Origem das Espécies, de Darwin, e de Os Pássaros da América, de John Joseph Audubon.

É um filme deveras estimulante, pois mistura ficção, dado que os acontecimentos até ao assalto são recriados passo a passo, com os testemunhos das pessoas reais, com o género do documentário, de uma forma praticamente exímia. Aliás, esta combinação faz com que American Animals tenha o pacing perfeito e desperte ainda mais a curiosidade dos espectadores, pois, muitas vezes, as pessoas reais corrigem, hesitam e demarcam-se do que acontece na recriação do assalto levando-nos a não querer parar de assistir. Ao elaborar a longa-metragem desta forma – combinando cenas de ficção interrompidas pelas reações dos verdadeiros assaltantes – Bart Layton, o realizador deste filme, desfoca a verdadeira linha cronológica dos acontecimentos, de forma voluntária, mas isso não estraga de todo American Animals: aumenta-lhe o ritmo, pois vemos diferentes cenas que representam diferentes testemunhos, dado que o grupo vai discordando entre si sobre a autoria das ações.

As personagens de Warren Lipka (Evan Peters) e Spencer Reinhard (Barry Keoghan) são muito carismáticas, sendo que Warren destaca-se pela sua loucura e estouvanice engraçada, enquanto Spencer brilha no seu secretismo. O crime, motivado pelo facto de Warren e Spencer sentirem que levam uma vida monótona e quererem torná-la mais excitante, é já por si razão suficiente para despertar curiosidade na história. Os jovens em questão são de classe média e praticamente colocam em risco as suas vidas estáveis, embora pacatas, pela adrenalina que um assalto lhes pode proporcionar.

A história é, de alguma forma, hilariante, devido à inexperiência que o grupo de rapazes revela na condução do assalto, e concomitantemente desconcertante, porque, no fundo, acabamos por torcer, ao longo do filme, para que este grupo de amigos consiga vingar nesta aventura, visto que acompanhamos os seus imensos planos para serem bem sucedidos, e as suas personalidades carismáticas.

A representação desta história real é feita de forma distinta, pois a articulação entre a ficção e o documentário permite-nos aceder às emoções dos familiares dos assaltantes, ou seja, aquilo que é descartado quando se retrata em ficção acontecimentos verdadeiros sem mostrar (literalmente mostrar, reitero) os envolvidos: American Animals revela-nos, sem sombra de dúvidas, os efeitos positivos que podem resultar de uma simbiose entre o documentário e a ficção.

American Animals, ainda que não seja um obra insigne do cinema, aproveita todo o potencial da história real e transforma-a num filme que a dignifica, o que raramente acontece quando se adaptam histórias verídicas para o cinema.

3.5/5
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