Am I Ok? (2024)

de Mercês Castelo-Branco

“There’s no timeline to figuring it out.”

Am I Ok? realizado pelo casal Stephanie Allyne e Tig Notaro, deixou os espectadores ansiosamente à espera durante dois anos, desde a sua estreia no festival de cinema Sundance em 2022. Agora que chega finalmente à plataforma Max, conseguimos compreender o entusiasmo por detrás do filme. Surge como um coming-of-age mas de personagens nos seus 30, com o propósito de normalizar e mostrar que as pessoas mesmo quando chegam a essa idade, nem sempre têm a vida “feita” ou orientada.

Em Am I Ok?, seguimos a relação entre duas amigas, Lucy (Dakota Johnson) e Jane (Sonoya Mizuno) que vivem a 5 minutos de distância uma da outra e partilham várias rotinas como os almoços em diners e aulas de yoga. Jane age mais como a amiga que aceita desafios e dá conselhos mais assertivos, enquanto Lucy vive dentro da sua zona de conforto e põe as suas paixões de lado, com medo de arriscar. Só quando Jane é promovida no emprego e obrigada a mudar de país, é que Lucy sofre uma espécie de choque e se apercebe que não tem vivido como realmente gostava. Esta dinâmica entre as duas oscila enquanto Lucy se redescobre, e à sua sexualidade, causando um afastamento entre as duas no tempo que resta até Jane partir. A argumentista do filme, Lauren Pomerantz, diz ter retirado muito da sua vida ao escrever este filme, dos encontros e partilhas banais que tinha com a sua melhor amiga e que aos poucos percebeu que faria sentido interligar isso à descoberta da sua orientação sexual. Esta partilha pessoal da argumentista traz um elemento genuíno que permite à audiência imergir ainda mais dentro do filme. 

Dakota Johnson destaca-se especialmente, dado que também seguimos mais de perto o percurso da sua personagem durante a narrativa. O seu estilo de representação aqui e noutro filme indie denominado Cha Cha Real Smooth (2022) de Cooper Raiff confirma a teoria de que devíamos ter a Dakota Jonhson em mais filmes indie. Ela tem a capacidade de ser bastante vulnerável e bastante misteriosa simultaneamente, que no caso das personagens de ambos os filmes mencionados, funciona muito bem. Apesar da sua carreira ter sido marcada pela participação na saga de filmes eróticos Fifty Shades of Grey (2015-2018), ao contrário do que muitos pensam, Dakota Johnson não é má atriz, o seu estilo é que se encaixa noutro género de produções.

Este filme, como fora mencionado anteriormente, pertence à categoria coming-of-age, que costuma focar-se numa faixa etária específica da fase de vida em que as personagens se encontram e amadurecem, (esta normalmente sendo entre os 15 e os 20 anos de idade) e tem como foco as crises existenciais e descobertas que as personagens passam durante essas fases mais conturbadas de transição de vida. Este género de filmes costumam ecoar bastante com o público, dado que todos nós passamos por isto várias vezes na vida: aquela sensação de se estar em contra-relógio e de ficarmos para trás, enquanto toda a gente já decifrou a sua vida e identidade e nós continuamos a sentirmo-nos completamente perdidos. São obras reconfortantes, porque nos relacionamos com as personagens. Apesar de não ser novidade esta categoria abordar pessoas nos seus 30, cada vez mais tem sido relevante isso acontecer dado que há aquela ideia imposta pela sociedade de que aos 30 já temos de ter a nossa vida feita, já devemos saber quem somos, estarmos “resolvidos”, casados, casa comprada, uma carreira e uma conta poupança recheada. Contudo, cada vez menos é o caso, e isso faz as pessoas ganharem mais ansiedade com o facto de não estarem a corresponder com as expetativas da sociedade, daí a importância de filmes (e séries) como este. Nos últimos anos saíram alguns dos quais também considero como uns dos meus favoritos, como The Worst Person in The World (2022) de Joachim Trier, e tick, tick… BOOM! (2021) de Lin-Manuel Miranda, onde as personagens questionam quem é que realmente querem ser e se a pessoa que são não corresponde apenas e simplesmente àquilo que sociedade esperava que fossem, e não àquilo que eles gostariam realmente de ser.

Lucy, em Am I Ok? começa a entrar numa espiral de pensamento quando ao ver a amiga tomar uma decisão complicada, se apercebe que também ela tem de tomar a decisão difícil de assumir quem é, por mais difícil que isso seja, o que a leva à questão do “não sou demasiado velha para só agora estar a ‘sair do armário’ e assumir-me como lésbica?”. Hoje em dia com a maior abertura que existe sobre os temas de género e sexualidade, há realmente pessoas a identificarem-se de acordo com os seus termos em idades bastante novas, que de certa forma parece criar uma pressão e fazer sentir aos adultos que ainda estão a tentar navegar por esse mundo, ridicularizados. Contudo, e tal como Jane lhe diz, “Não existe um prazo ou uma altura específica para percebermos o que somos.”        

É um filme reconfortante, sente-se como um abraço que nos acolhe e acalma esse relógio que está sempre a apressar-nos para experienciarmos tudo e sabermos quem somos o mais rápido possível. As gerações anteriores às nossas podiam já ter casa e filhos aos 25, no entanto não quer dizer que tenhamos de corresponder a essas expetativas ou sequer de querer fazer o mesmo. Há tempo para nos encontrarmos mas, por vezes, esse caminho é preciso fazê-lo sozinho, mesmo sabendo que temos alguém para nos ajudar a tomar as decisões mais complicadas.

4.5/5
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