Salomé (Lua Michel), filha de emigrantes portugueses em França, vai passar as férias de verão com a sua família numa pequena aldeia em Trás-os-Montes. Porém, certo dia, durante as festividades na aldeia, a sua avó, com quem tinha uma ligação bastante especial, morre subitamente. Enquanto os adultos discutem sobre os detalhes do funeral, Salomé lida com a presença do espírito daquela que era considerada por muitos como uma bruxa.
Este é o enredo de Alma Viva, um filme realizado por Cristèle Alves Meira, escolhido pela academia portuguesa de cinema para representar Portugal nos Oscars.
Nota-se um teor bastante intimista nesta longa-metragem, mas sempre na medida certa de forma a não tornar o filme demasiado proibitivo. Tem aquelas discussões entre os habitantes da aldeia que são sobre tudo e nada, enquanto explora as intrigas narrativas que viajam à velocidade da luz, nomeadamente, no que toca às acusações de bruxedo, pois uma aldeia que se respeite tem que ter sempre uma bruxa.
A audiência acompanha esta família que para além de religiosa é bastante ritualista, o que torna a construção da narrativa ainda mais interessante, pois permite criar uma ligação entre Salomé e a sua falecida avó (Ester Catalão) fazendo com que o suspense surja de forma natural aparecendo, assim, ao serviço da história e não de uma forma barata sem qualquer conteúdo.
Apesar do filme girar bastante em torno da espiritualidade e como esta se conecta com a natureza, através de alguns fenómenos naturais que casam com o momento da história, o que mais salta à vista é a escolha interessante de tornar o espírito da avó vivo (ou a alma viva se preferirem), através de Salomé. Por um lado, é acertado, pois ambas representam o ciclo da vida, uma vez que se trata da mais nova e a mais velha do seio familiar, que por sua vez, se destacam como aquelas com mais clareza. Por outro lado, serve também para transportar a audiência para o pós-vida e mostrar o quão a noção de morte é injusta que nem deixa a própria pessoa processar o que lhe acabou de acontecer, fazendo com que o filme não seja apenas sobre aquela família que tenta superar a morte da matriarca, mas também sobre a própria tentar superar aquilo que lhe aconteceu para assim seguir em frente.
O grande inimigo deste filme é a sua duração. Percebe-se que uma história como esta merece mais tempo, tanto para construir melhor as relações familiares como também para desenvolver os arcos narrativos em geral. Em vários momentos existe uma sensação que certos arcos e certas cenas acabam a meio. Parece que o filme tenta explorar ao máximo um tema que requer mais tempo nas suas componentes, mas como esse tempo não existe acaba por parecer que fica a faltar algo. Um exemplo disso mesmo prende-se com os habitantes da aldeia: se num momento inicial a narrativa consegue convencer da veracidade destes personagens, à medida que o filme vai avançando vai também deixando-os de lado, fazendo com que certas reações desta comunidade soem demasiado artificiais.
A mesma problemática encontra-se na materialização de outros aspetos da narrativa, como o seio familiar que convence mais pelo carisma dos atores do que pelo argumento. Principalmente pelo talento de Lua Michel que, apesar de poucas falas, consegue dar um realismo às situações através do seu olhar bastante expressivo. Esta personagem é aliada a uma fotografia que usa e abusa de ângulos que misturam o seu ponto de vista, com planos que imergem a audiência na história como se estivéssemos dentro do filme a ver todos estes eventos a ocorrer. Toda a questão em volta da bruxaria também fica bastante subdesenvolvida, mas torna-se perdoável pois, apesar de tudo, a realizadora consegue distribuir esse tema de forma a que a audiência esteja sempre nele focada.
Alma Viva é um filme interessante que sofre bastante pelo facto de ter um tempo demasiado reduzido para o tipo de história que quer apresentar. Exigia uma história com um nível de desenvolvimento maior para construir vários tipos de ambientações que equilibrassem os vários momentos do filme.
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