Agatha All Along – Minissérie (2024)

de Diogo Carriço

A mais recente série da Marvel foge um pouco do padrão e do público que o estúdio tenta atrair, provando que a Marvel consegue divergir do convencional. Prova que não há mal em explorar novos ramos das bandas desenhadas e novos públicos, e que não são as histórias ou as personagens que estão a afastar o público geral do seu universo, mas que a qualidade realmente importa para o regresso dos fãs que amam este universo.

Agatha All Along (Foi sempre a Agatha), série spinoff de WandaVision (2021), acompanha Agatha Harkness (Kathryn Hahn), uma bruxa que, após se libertar do feitiço no qual foi presa, segue em busca de um clã de bruxas desesperadas para caminharem o lendário Caminho das Bruxas, que promete a qualquer bruxa que chegue ao seu fim o que mais deseja.

A série começa com uma estrutura algo familiar para os que já viram WandaVision, com a recriação, com um leve tom de sátira, de uma série popular, ou um género de séries, para representar o feitiço no qual Agatha está sob o efeito. Quando esta rompe o feitiço, entramos realmente nesta história sobre a infame Agatha Harkness, que todas as bruxas conhecem e temem. Esta personagem parece ser a mais pessoal e original que a Marvel nos entregou nos últimos tempos, talvez por não ser muito popular nas bandas desenhadas, pelo menos como protagonista, mas nota-se que Jac Schaeffer, realizadora, showrunner, e escritora da série, teve bastante criatividade no seu desenvolvimento, mantendo-se sempre fiel às histórias originais. Quando a série, então, começa a fugir da sua predecessora e desenvolve a sua própria narrativa torna-se uma brisa de ar fresco, relativo às recentes estreias da Marvel.

As personagens, Jennifer Kale (Sasheer Zamata), Alice Wu-Gulliver (Ali Ahn), Lilia Calderu (Patti LuPone) e Rio Vidal (Aubrey Plaza), são tão originais quanto Agatha, e são tratadas com o mesmo carinho pelo argumento e pelas atrizes que as interpretam. Cada uma tem direito a um episódio que foca na sua personagem, no seu passado e na sua magia, mas destas atrizes, Patti LuPone e Aubrey Plaza são de destacar. Patti LuPone, já conhecida pelo seu talento no palco e em algumas séries e filmes, entrega-se completamente à personagem e à sua trajetória, especialmente no seu episódio, que também marca pela sua parte técnica. Aubrey Plaza, que tem tido muito reconhecimento pelas suas atuações mais recentes, é mais uma presença que persegue a série e que deixa sempre a pedir por mais um bocado de tempo de ecrã. Aubrey interpreta Rio com tanta liberdade e diversão que se torna uma das mais adoradas da série, para além da química tangível com Kathryn Hahn. Ambas trabalham muito bem a tensão entre as duas personagens e complementam-se naturalmente nas suas atuações, mas Kathryn Hahn é a clara estrela. Hahn transforma-se na sua personagem com todo o seu corpo e maneirismos. Conhecida pelos seus papéis cómicos, talento que usa muito bem nesta história, Hahn destaca-se pelos momentos mais dramáticos, pela maneira como esta muda de um momento para o outro, da performance e perversidade que Agatha tem como fachada para os seus sentimentos mais profundos e escondidos de quem a rodeia. Joe Locke, a mais recente aquisição da Marvel para esta nova era de super-heróis jovens, divide o protagonismo com Hahn. Conhecido pelo seu papel de Charlie em Heartstopper (2022-), Locke não consegue fugir muito da sua caracterização de rapaz tímido e bonzinho. Tem bons momentos e nota-se que se está a divertir e o seu esforço ao lado de um elenco tão talentoso, mas é difícil sentirmo-nos intimidados e sentirmos a gravidade da personagem em alguns momentos.

Agatha All Along tem muito de bom e de excelente, mas há momentos em que volta ao mediano habitual dos últimos projetos da MCU, nomeadamente quando sai do contexto do Caminho das bruxas e explora o passado de certas personagens para ter esta conexão com outros projetos deste universo. O orçamento é reduzido, dentro dos possíveis para a Disney, a ação é também reduzida em escala e o foco é nas personagens e no seu desenvolvimento, então quando a série foge deste conforto e sai para um contexto maior, sente-se o peso do futuro que a Marvel já tem pensado para estas personagens. A série também falha ao deixar o público a desejar por mais Rio e Agatha, cuja relação é pouco desenvolvida, e na sua típica dependência de exposição, que, mesmo sem afetar muito o seu visionamento por não estar muito deslocada da escrita geral dos episódios, volta à necessidade comum na Marvel de pertencer a um universo maior e ter de se interligar com outros projetos.

Ao fim de tanto tempo parece que a Marvel voltou à sua qualidade padrão, nem que seja por breves momentos. Não é surpreendente que seja por fugir à grandiosidade que esta tenta ultrapassar com cada projeto que faz. Pode servir de lição que mais nem sempre é melhor, e também que o que faz um bom filme ou série não são os cameos surpresa, ou os grandes vilões e heróis com grandes arcos megalómanos, mas, sim, boa escrita, originalidade, boa realização, personagens interessantes e atores que saibam se divertir, tanto como fazer um bom trabalho, num universo tão fantasioso.

4/5
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