About My Father (2023)

de Francisca Tinoco

O comediante americano, Sebastian Maniscalco, decidiu escrever um filme baseado na sua vida enquanto filho de um imigrante siciliano nos Estados Unidos, e conseguiu convencer Robert De Niro a interpretar o seu pai. A premissa parece promissora – uma história inspirada em experiências pessoais com um peso emocional vindo da relação pai/filho, com o próprio King of Comedy como parceiro de cena.

Realizado por Laura Terruso, e co-escrito por Austen Earl, About My Father não utiliza todo este potencial que tinha à sua disposição. Apesar de ter momentos singulares fortíssimos que quase carregam o filme às costas, enquanto produto completo, esta comédia familiar acaba por se ficar pela categoria do genérico, previsível, e formulaico.

A sua história já é demasiado conhecida: rapaz está apaixonado por rapariga com origens completamente diferentes da dele (neste caso, um italo-americano de segunda geração de um contexto humilde de classe média-baixa e uma mulher branca americana que cresceu numa família conservadora e podre de rica). Quer pedi-la em casamento, mas primeiro a relação tem que ser aceite pelos pais (neste caso, o pai dele, principalmente). As diferenças culturais enquanto veículo para a comédia funcionam e são uma aposta segura – mas também por isso nunca fazem o salto de bom para excelente.

Não há nada de surpreendente na comédia deAbout My Father, mas não é por isso que deixa de ter a sua piada. É uma versão menos inspirada de Meet the Parents (2000) – também com Robert De Niro – ou da hilariante, ainda que crassa, trilogia francesa Qu’est-ce qu’on a fait au bon Dieu?, mais conhecida nacionalmente como Que Mal Fiz Eu A Deus?.

De Niro e Maniscalco têm bastante charme, tanto individualmente como em conjunto. A sua química enquanto pai e filho fictícios funciona e convence – é o centro deste filme e, quando a escrita e a realização dão toda a liberdade para se expressarem ao máximo, este cresce e inspira. Debaixo do artifício e das piadas fáceis, encontram-se sentimentos genuínos, nomeadamente a confusão entre admiração e frustração na relação com os nossos pais que as vivências reais de Maniscalco trazem para o argumento.

É evidente, nesta ficcionalização da sua vida, o carinho que o comediante nutre pelo seu pai, pelos valores que este lhe instituiu e pela força e resiliência que lhe ensinou. Infelizmente para todos – atores e espectadores – essa identidade tão própria do filme perde-se por entre peripécias no limiar do ridículo, diálogos repetitivos e por vezes superficiais, e uma estrutura desengonçada.

O elenco secundário conta com Leslie Bibb no papel da namorada de Sebastian, Ellie; a sempre graciosa Kim Cattrall e David Rasche (praticamente no mesmo papel que faz em Succession (2018-2023)) como pais de Ellie; e Anders Holm e Brett Dier como o irmão parvo e o irmão espiritual de Ellie, respectivamente. A família Collins oferece um bom contraponto para a resmunguice da personagem de De Niro. Felizmente, tanto os guionistas como a realizadora tiveram a perspicácia de juntar o ator de Goodfellas (1990) com a atriz de Sex and the City (1998-2004) para cenas que não precisavam necessariamente de estar no filme, mas que são maravilhosas simplesmente pelo talento de que dispõe.

Mesmo com todas as suas falhas e clichés, na sua essência, About My Father é um filme que nos faz querer ligar aos nossos pais assim que atinge os créditos finais.

2.5/5
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