A Quiet Place: Day One (2024)

de Antony Sousa

Prequelas e sequelas são “o pão nosso de cada dia” da indústria cinematográfica nos tempos que correm. Muitas vezes representam uma oportunidade de lucro, mais do que uma oportunidade de contar uma história relevante dentro de um universo já criado. A Quiet Place: Day One é… um pouco dos dois. Por um lado, viveríamos bem sem um filme que retrata o início de tudo sem o explicar propriamente. Por outro lado, depois de nos ligarmos às personagens desta história em particular, ficamos felizes por as termos conhecido.

Sam (Lupita Nyong’o) é uma paciente com uma doença terminal que sai do hospital em excursão com outros pacientes para assistir a um espetáculo de marionetas no coração de Nova Iorque. Essa deslocação acaba por coincidir com o ataque alienígena de criaturas que atacam impiedosamente ao mínimo som. Numa cidade onde a média de decibéis corresponde a um grito constante, não demora muito até que Sam se encontre sem escapatória possível. Juntamente com o seu inseparável amigo felino e um novo amigo Eric (Joseph Quinn), tentarão sobreviver e procurar cumprir com os seus últimos desejos.

Lupita Nyong’o domina o ecrã praticamente do início ao fim do filme, e que bom é vê-la a ter essa possibilidade. É através da sua Sam que vemos o terror a acontecer, que ficamos com vontade de abraçar o primeiro gato que encontrarmos na rua e que tememos qualquer som que destrua o silêncio por potencialmente isso vir a significar o nosso fim. Claro que cada “herói” fica a ganhar quando tem um bom sidekick, e Joseph Quinn interpretou um Eric perfeito para esse efeito. Fortemente empático, corajoso na verdadeira essência da palavra, ou seja, alguém determinado em avançar apesar do medo, não alguém a avançar sem medo, e simultaneamente sensível. Joseph Quinn deixou uma imagem muito marcada com a sua personagem em Stranger Things (2016-2025), contudo explora aqui outro lado seu que tem tanto potencial quanto o que lhe conhecemos do seu Eddie Munson da série dos irmãos Duffer.

A dinâmica entre estas duas pessoas que se encontram num cenário igualmente distópico, porém com objectivos diferentes, acaba por resultar bastante bem, sendo que, sejamos sinceros, o elemento que eleva essa conexão é, nem mais nem menos, o actor “whiskas saquetas”, portanto o fofo e amigável gato. Sam vive com o seu gato para ter uma companhia incondicional independentemente do estado em que se encontra, física e emocionalmente, já Eric conhece o mesmo gato para que este o indique o caminho para a bravura e a superação dos seus medos.
 
Uma das maiores curiosidades da saga A Quiet Place (2018 – ) é que em todos os exemplares (este Day One inclusive) há uma camada dramática e familiar por baixo da superfície do terror e dos monstros. A dimensão emocional é no mínimo proporcional à dimensão das circunstâncias apocalípticas. Não é assim tão fácil encontrarmos um filme tão puramente de terror que se importe tanto com as suas personagens e com o que sentem. Esse é o segredo para nos envolvermos no enredo e, de facto, nos fazer diferença se aquela pessoa está em perigo e se safa ou não. Mesmo que já achemos que sim, porque aquela pessoa é protagonista, há sempre uma parte de nós que se questiona “então e se falecer mesmo? Não me façam isso!”.

Apesar de tudo isto, é inevitável comparar esta prequela com os filmes que nos introduziram para o lugar silencioso, onde até o som de uma pipoca mastigada nos soa a algo fatal e, nesse aspecto, como seria previsível, A Quiet Place: Day One não causa tanto impacto como A Quiet Place I (2018) e A Quiet Place Part II (2020). Obviamente o efeito surpresa já passou, a família a que associamos a saga não está presente, e também se notou uma tendência para mostrar mais das criaturas alienígenas. A expressão “menos é mais” é, por norma, boa conselheira para filmes do género. Vermos tanto tempo estes seres a correr como a manada de gnus no The Lion King (1994), ou a treparem prédios, ou a fazerem sentinela, que isso retira um pouco da intensidade de cada momento de perigo de vida e de cada jumpscare (existem alguns, não muitos). No entanto, é uma boa experiência cinematográfica, bem contida em 100 minutos, e com performances à altura, não só pelos protagonistas já mencionados, mas também pelas atuações de Djimon Hounsou e Alex Wolff.

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