A Música Invisível (2022)

de Antony Sousa

(Filme integrado na programação do Festival Futurama)

Tiago Pereira é o realizador e pensador não só do documentário A Música Invisível, como de uma atitude artística que pretende dar voz e espaço à música cigana no panorama nacional. Através de entrevistas, dança e muita música, de norte a sul do país, a edição do filme estica graciosamente os nossos lábios até ao sorriso espontâneo, devido à honestidade, e à verdade do que vamos assistindo e ouvindo, independentemente do nosso gosto musical pessoal. 

Porque na realidade, a música no seu melhor é a exploração da alma humana, seja para nos fazer dançar, chorar, ou as duas coisas. A música faz-nos sentir, porque é sentida. Não existe um minuto do que assistimos em A Música Invisível que não seja sentido, desde actuações mais amadoras de quem está a começar a conhecer-se musicalmente, até às actuações mais experientes e até conhecidas.

A música cigana portuguesa, extremamente influenciada pelo flamenco, tem uma longa vida mas não tem o mesmo espaço de antena de outros géneros. Não existem razões que justifiquem essa ausência, e os intervenientes do documentário comprovam que se lhes for dada a oportunidade, inevitavelmente chegam às pessoas. Deve haver espaço para todos; é sinónimo de evolução que haja espaço para todos. 

Caminhar em frente é caminhar com consciência, percebendo que somos muito mais completos se abrirmos horizontes para diferentes culturas, e a expressão artística, seja em que formato for, traz sempre consigo uma carta de paz; existe para enriquecer os dias, portanto quanto mais opções tivermos para enriquecer os nossos dias mais interessantes serão esses dias, e consequentemente as nossas vidas, que são compostas pela junção desses dias.

“A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria” é o nome do projecto de Tiago Pereira, que visa procurar a música pouco divulgada, mais focada na interpretação e na essência do indivíduo, que quanto mais específico é mais universal potencialmente se torna. Este filme, a juntar a várias outras obras do mesmo autor, é mais uma peça que faz a máquina do “música portuguesa a gostar de si” funcionar de forma cada vez mais oleada e disponível para ouvir talento genuíno e desconhecido, sem pedir nada em troca. Completamente merecedor de toda a nossa atenção, respeito e apoio.

4.5/5
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