Baseado no livro Reaching for the Stars: The Inspiring Story of a Migrant Farm Worker Turned Astronaut de José Hernandez, esta é uma história não de um homem só, mas de uma família, a cultura de um povo; uma vida de sacrifícios; do poder das palavras e da influência positiva que podem ter quando surgem numa posição pedagógica; do verdadeiro significado da palavra tenacidade, e de sonhos que só são impossíveis se não lutarmos pela queda do “im”.
José Hernandez começou a trabalhar no campo, na sua infância, com a sua família que emigrou do México para os Estados Unidos. O seu sonho era um dia ir ao espaço. A Million Miles Away conta todos os passos desse sonho aparentemente inatingível.
Alejandra Marques Abella assina aqui a realização deste filme que tem o espírito de outros bons exemplos de biografias de superação como Eddie the Eagle (2015) e Rudy (1993). E consegue-o porque utiliza a mesma fórmula destas histórias, introduzindo as personagens ainda em criança, e provocando uma sensação de protecção e de empatia instantânea para com elas. Sabemos que vão ter momentos maus, que vão ameaçar cair, mas que se vão levantar, vão persistir, e não vão parar até atingirem o seu sonho maior, por mais parvo ou improvável que pareça. Como é possível então isto não ser enfadonho, tendo em conta a previsibilidade do desenrolar dos acontecimentos? Como ficamos tão agarrados às cenas, que parece que a nossa vida depende do que acontece no ecrã? Através de um conjunto de ingredientes: Uma história verdadeira que se evidencia naturalmente, sem ser preciso acrescentar muito para efeitos dramáticos, um elenco forte que respeita o legado que estão a contar, e muito, muito coração! Uma entrega total no que respeita à mensagem que pretendem transmitir. Não se pode ficar a meio caminho, tem que se ir com tudo de encontro a esse objectivo, tal como estas pessoas na sua vida real fizeram.
Michael Peña entrega todo o coração, toda a vulnerabilidade, e toda a empatia que transborda dele em quase tudo o que faz, e adiciona ainda uma simplicidade tocante. Contém neste José Hernandez toda a força de alguém que não desiste, como a fragilidade de quem carrega o peso do mundo nas costas. Há poucos actores que se aproximam tanto de nós de forma tão natural como Michael Peña. Uma lista talvez encabeçada por Sean Astin, mas certamente restrita a um pequeno número de super-heróis da empatia.
Claro que só existe José Hernandez nos livros da história e literalmente no livro que inspirou este filme, porque existe uma Adela, interpretada com igual coração e bravura por Rosa Salazar. É a interpretação mais humana e completa da actriz. A química dos dois contribui muito para uma extraordinária história de amor, não pelo formato mais habitual de duas pessoas que se apaixonam, mas de duas pessoas que amam tanto o outro que muitas vezes o colocam à frente de tudo, e só querem que se sintam felizes. O restante elenco, nomeadamente Julio Cesar Cedillo como pai de José, e Bobby Soto como Beto, primo de José, acrescentam um elemento de humor, que alimenta de forma mais vincada a primeira metade de A Million Miles Away.
Não é um filme com um orçamento comparável a outros filmes que vão até ao espaço, sendo essas cenas não terrestres porventura as mais banais e menos rigorosas relativamente ao que se criou nos últimos anos, mas são apenas acessórios para o que realmente importa nesta história. Claramente existe um embelezamento de algumas situações no enredo para tornar tudo mais impactante, e até uma tendência para sentimentalizar vários momentos, talvez em excesso, mas a intenção está no sítio certo, bem no peito, ligeiramente mais para a esquerda.
Pode ser um filme que puxa a lágrima, e que não inventa uma fórmula, mas é uma história que merece ser contada, por questões culturais, mas sobretudo pela vertente humana que tem. O mundo precisa de exemplos reais de pessoas que inspiram. Seja em que área for. Ainda faz bem acreditar que a resiliência de mãos dadas com a integridade, bondade, e com as pessoas certas ao nosso lado, nos pode levar numa nave espacial até aos nossos sonhos, mesmo que seja pela via mais longa e morosa. Dizem que quando é assim, a vista vale a pena.