Chegar à terceira idade é, por vezes, sinónimo de solidão. Quem amamos já partiu, e a revolta é uma das formas mais fáceis de encarar a vida. As memórias que permanecem, ficam cada vez mais desvanecidas e torna-se difícil o ato de recordar. É neste contexto que nasce o filme A Man Called Otto.
Em pouco mais de duas horas, conhecemos Otto (Tom Hanks). Um viúvo mal-humorado, com manias que incomodam as pessoas com que se cruza. Todas as manhãs faz a sua já tradicional “ronda”, e verifica se no bairro onde mora tudo corresponde com os padrões por si estabelecidos. No entanto, ao conhecer Marisol (Mariana Treviño) e Tommy (Manuel Garcia-Rulfo), um casal com duas filhas pequenas que se muda para a casa em frente à sua, vai aprender que a vida é melhor quando é partilhada, e que há sempre alguém que nos quer bem.
Um remake americano do filme sueco, A Man Called Ove (2015), esta longa-metragem de Marc Forster é expectável em diversos sentidos. O argumento é básico. Estamos perante a tradicional história com final feliz, que é o mais comum nas comédias de Hollywood. Também o caminho que as personagens levam ao longo da história é perceptível desde o primeiro minuto. Porém, Forster, provavelmente consciente disso, adiciona camadas dramáticas à trama que fazem com que a história suba de patamar, e que o espectador permaneça na duvida sobre o que pode ou não acontecer.
Um elemento refletido na forma como as personagens estão criadas. Por mais que possa, inicialmente, parecer que o interesse de todos por Otto é descabido e sem sentido, o realizador consegue criar relações credíveis, sustentadas muitas vezes por acontecimentos passados, e tornar estas conexões plausíveis. O ritmo da história também ajuda neste ponto. Apesar de haver uma grande dinâmica na forma como o argumento se desenrola, há sempre tempo para acrescentar pequenas pitadas de contexto, através de flashbacks, que vão acontecendo em momentos cruciais do filme. Percebe-se facilmente uma genuína tentativa de Forster em desenvolver o caráter emocional dos personagens.
Aliado a isso, a interpretação dos atores está muito bem sustentada por Tom Hanks que consegue liderar toda a história, e mesmo assim oferecer, mais uma vez, uma personagem bem construída, demonstrando que consegue ser um ator versátil e adaptar-se a qualquer género que lhe seja proposto.
É importante destacar o argumento e a forma como o argumentista, David Magee, consegue, através do texto, suportar todo o peso emocional da história. Ainda que seja o já falado cliché, não deixa de ser muito bem desenvolvida porque tanto o realizador como o argumentista souberam aproveitar-se do excelente elenco que tinham nas mãos e conseguiram dar ao espectador uma experiência libertadora. Especialmente nas diversas ocasiões, onde vemos os momentos mais negros de Otto. São cenas desconfortáveis mas a forma como as sequências são executadas dá ao filme um caráter de esperança no seu final.
A Man Called Otto pode ser descrito como uma montanha-russa de emoções. É um filme que pode não arrancar muitas gargalhas, mas cada sorriso, cada lágrima, cada momento de introspeção é completamente sentido.