Na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia, existe um abrigo para crianças em situação de vulnerabilidade social. Neste documentário, Simon Lereng Wilmont acompanha a vida de três crianças, Sasha, Eva e Kolya, que ali viveram durante nove meses, a lidar com um fardo que não lhes deveria dizer respeito. Este filme, apesar do contexto atual, tenta repercutir as consequências da invasão Russa de 2014 através do olhar inocente das crianças.
Apesar das lágrimas serem inevitáveis (e se admito lágrimas, podem imaginar o murro no estômago), o filme perde imensa força devido à sua proposta narrativa, pois ao focar-se demasiado na visão das crianças, por muito tocante que seja, acaba por estender o seu conceito e soar bastante repetitivo. Perguntas são deixadas no ar, como por exemplo: o paradeiro dos pais das crianças? Quem são estas pessoas e por que agem desta forma?
Mencionar a invasão não é suficiente, pois apesar de ter sucedido há relativamente pouco tempo e poder jogar, assim, com a memória do espectador, dentro de dez ou quinze anos isso já não será possível. Pode ser argumentado que ampliar a dimensão do documentário, para além de mais dispendioso, retiraria a inocência decorrente pois as perguntas sem resposta servem como um veículo para a audiência empatizar com a situação, e o realizador confia na capacidade do público em tirar as suas próprias conclusões, porém, é inevitável questionar a longevidade deste documentário com pouco contexto oferecido.
Nas histórias visadas, é notável que as duas primeiras servem para espelhar a panóplia de casos e situações que passam e passaram pelo abrigo, e também para iniciar a construção da desconstrução da inocência que persegue as três crianças. São pequenas pistas que vão culminar na vida de Kolya, um rapaz que tenta esconder a sua dor através de atos de rebeldia. É aqui, caros leitores, que percebemos quem é o “sem coração da sessão”. É difícil descrever os sentimentos que passam pela cabeça deste rapaz e impossível não se emocionar com a sua viagem de aceitação, quando permite à audiência passar as autênticas muralhas que a vida o forçou a erguer.
A House Made of Splinters é um documentário que peca pelo facto de se focar demasiado no seu conceito principal e de se esquecer do mundo que está à sua volta. Porém, a sua história bastante emocionante potencia o verdadeiro motor do filme.