Uma produção brasileira, realizada por Alexandre Moratto e protagonizado por Rodrigo Santoro e Christian Malheiros, 7 Prisioneiros é sobre quatro jovens, provenientes de lares humildes, que decidem aceitar uma oferta de emprego na cidade de São Paulo, no Brasil, em busca de uma vida melhor, até perceberem que nem tudo são rosas, quando as promessas começam a ser quebradas e os seus direitos diminuídos. Com o passar do tempo, o patrão dos jovens, Luca (Rodrigo Santoro) estabelece um acordo com Mateus (Christian Malheiros), que aproxima a relação deles ao ponto de Mateus se tornar um verdadeiro braço direito para Lucas.
Quando a Academia Brasileira decidiu escolher o filme Deserto Particular (2021) para representar o país nos Oscars, criou-se uma pequena controvérsia, pois foi uma decisão contra as expectativas dos cinéfilos do outro lado do Atlântico, particularmente porque 7 Prisioneiros tem recebido apoio maioritário no circuito internacional, sendo distribuído pela Netflix e considerado o favorito nesta categoria.
Nesta história, destaca-se a sinergia que existe entre as quatro personagens. O realizador, desde início, faz um excelente trabalho a criar e desenvolver estes jovens sonhadores, com vontade de fazer tudo para atingir os seus sonhos. É um tiro certeiro, pois a simpatia e a ingenuidade destas personagens fazem com que a audiência se importe com a sua segurança.
Rodrigo Santoro está impecável como Luca: um homem, totalmente, desprezível e vil que explora os seus prisioneiros para ganho próprio. É através desta personagem que o filme explora um dos seus grandes argumentos, pois Moretto mostra que é possível compreender a razão de certas pessoas cometerem maldades, mas que isso não significa que esses atos sejam justificados, de alguma forma. Uma personagem que funciona como um produto de um passado em pobreza e sofrimento, cuja experiência enveredou Luca por uma vida onde ele pudesse exercer o seu poder sobre os outros, procurando por um meio para chegar ao elevador social. Basicamente, Luca é um produto daquilo que ele viu acontecer com os seus pares mais próximos. Existe a tentação de sentir algum tipo de simpatia perante esta personagem, mas o realizador, prontamente, deixa as dúvidas de lado, quando percebemos que certas atitudes ultrapassam o aceitável, para alguém que já se habituou tanto ao seu meio, que nem é concebível reconhecer alguma forma de humanidade noutra pessoa, com menos poder que ele.
Mateus é o verdadeiro protagonista, pois é nesta personagem que as questões morais são colocadas. O jovem começa por estar na linha da frente, a tentar tirar o grupo desta situação, mas, depois de fazer o acordo para libertar os colegas, começa a aproximar-se de Lucas e a entrar em território questionável, onde a fronteira entre aquilo que ele faz para proveito do grupo ou em seu proveito torna-se mais instável.
A dinâmica entre os atores, Santoro e Malheiros, é excelente, apesar de acabar por danificar, um pouco, a identidade do filme, porque o realizador deixa de lado os restantes membros do grupo, ao ponto em que são esquecidos da narrativa, numa escolha irónica, tendo em conta o título do filme. São também ignorados alguns aspetos modernos, como as redes sociais, juntamente com algumas questões que o filme tenta ampliar mas que não desenvolve com a maior das aptidões, exemplificado na terrível ação do estado e da polícia, apresentada como corrupta, mas nunca é desenvolvida para além disso. Certas decisões, como a inclusão dos fiscalizadores, numa única cena, soam como momentos inúteis, criados somente para desenvolver tensão, como se fosse um instrumento facilitador do argumento, em vez de uma real complicação para as personagens.
O ambiente desta narrativa desilude, devido à falta de análise da complacência de uma cidade inteira perante este tipo de exploração, onde ninguém gosta desta vida mas todos preferem ignorar, pois esse é o aspeto fulcral que contribui para o rápido desenvolvimento da sociedade e do seu envolvimento político. São pontos interessantes que se tornam frustrantes, principalmente por desistirem da proposta principal, apresentada no filme, a meio da premissa.
No entanto, a representação da cidade de São Paulo é feita com precisão suficiente, para que a audiência repare na transição de perspetiva, onde, inicialmente, surge como uma cidade que tem tudo para oferecer e muito mais, até parecer que todos os seus edifícios são desprovidos de vida, como se tratassem de autênticas prisões.