Até que ponto é que a nossa mente consegue criar histórias tão reais que é impossível distinguir a ficção da realidade? É esta questão que rege 400 Days. Um thriller de ficção científica realizado por Matt Osterman, que analisa os efeitos psicológicos de uma longa viagem espacial.
A história segue um grupo de astronautas enviado para uma missão simulada num planeta distante. O objetivo é que permaneçam na nave durante quatrocentos dias. São quatro os participantes deste projeto. Theo Cooper (Brandon Routh), o capitão da missão, Dvorak (Dane Cook) que assume quase que um papel de youtuber, visto que o seu trabalho é registar em vídeo a missão e publicar semanalmente na Internet, Bug (Ben Feldman), o cientista, e, por fim, Emily (Caity Lotz), uma psicóloga que é responsável pela saúde mental do grupo. Nos primeiros meses, tudo parece estar em ordem, mas, repentinamente, quando perdem a comunicação com o exterior, são forçados a abandonar a nave e a descobrirem que a ficção pode, na verdade, ser uma realidade assustadora.
Desde logo, a premissa do filme é bastante interessante. A ideia do realizador de abordar a forma como o estado psicológico de uma pessoa pode ser afetado quando em situações de stress, permite que seja explorado uma grande variedade de temas. Aqui, o resultado ainda é mais fascinante porque observamos quatro pessoas, na mesma situação, mas a experienciar de forma diferente. Além disso, o filme deixa o espectador num limiar. Nunca sabemos se o que estamos a ver é real ou parte da imaginação de uma personagem.
A linha de acontecimentos está muito bem planeada. Há uma orientação do espectador ao longo da história, mas sempre com espaço para o inesperado e para algumas pitadas de terror. Inicialmente, é possível ter uma compreensão das personagens, incluindo a sua rotina e a forma como se relacionam com o decorrer do tempo. De repente, essa tranquilidade é interrompida e perturbada, e as questões aumentam.
O ponto alto está no seu final e na forma como está construído. A sua imprevisibilidade suscita uma necessidade de ver o filme outra vez na tentativa de perceber o que na realidade aconteceu. Há uma sensação de que se deixou passar alguma coisa que era a chave para o mistério. Numa primeira análise nada aparenta ter grande sentido, contudo, quando pensamos sobre a sua história começamos a criar conexões e teorias que elevam, de imediato, a fasquia do filme. Se calhar o segredo do sucesso do filme está aí, não naquilo que acabámos de ver, mas naquilo que a nossa mente pode acrescentar à experiência. Esta ideia, aliada a um elenco de atores conhecidos que apresentam atuações interessantes, torna este projeto inovador.
Mas, como nem tudo é perfeito, o filme também apresenta alguns erros que o fazem perder qualidade. O problema está em partes do argumento, quando as personagens se deparam com uma realidade que não faz sentido. É como se, subitamente, tudo estivesse completamente ao acaso e as personagens não tivessem mais nenhuma história para contar. Até poderia ser uma forma do realizador de transmitir a imagem de um mundo apocalítico, no entanto, o que o espectador vê é uma sucessão de acontecimentos que não fazem grande sentido.
Tudo isto pode ser causado pelo baixo orçamento. A própria fotografia não causa surpresas. É, também, possível notar que não há um grande trabalho de cenários, o que provoca distrações no campo narrativo. Por exemplo, logo de início, há uma conferência de imprensa onde é apresentada a missão e os objetivos que pretendem atingir. A cena ocorre no meio do nada, apenas com um grupo de pessoas a fazer perguntas, que demostram pouco interesse no que está a acontecer. O que é surpreendente, uma vez que a missão terá um impacto significativo em todo o mundo.
400 Days é um misto de emoções com a particularidade de suscitar diversas opiniões. Há os que apreciam a ideia e acham que ela está bem construída, enquanto outros consideram que a história não segue uma lógica definitiva. No entanto, é um filme que demonstra com clareza o poder que a mente tem no controlo de ações e como ela tem a capacidade de nos fazer acreditar em algo que pode não passar de um grande pesadelo.